Feito sombra que, perdido o umbral, vira gesto no ar,
sobre o meu gesto se lança a sua palma,
são os meus braços herdeiros do seu manto.
A minha inspiração expele o seu hálito;
a mão, mesmo aberta, se entrelaça.
De um novo ângulo fito as estrelas.
As maçãs do rosto recebem nova brisa.
Reconheço o olhar que agora abraça a chuva,
bem como um quê da vocação para o que não enxergo.
Com a ousadia dos íntimos e cúmplices,
acomodo as diferenças e atritos,
grato por não se explicarem.
Nada é mais livre do que as pontas soltas.
Sigo fecundo de pausas e vírgulas.
Nu, vou vestido de par.
O fôlego que me tomou agora repõe do próprio.
Sua grafia declara o meu afeto.
E é tamanha a comunhão de autorias,
tão farta é a troca
que já não sei quem reparou primeiro
que a alegria, como a dor, não dá aviso.
(Daí o espanto que vem com o gosto
de sentir no meu rosto
o nascer do seu sorriso)
RF
12/08/2014