quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Uma Letra: "Alice Nua"

Alice nua no olhar
Que a lente captura entre as mãos
Qual ave ingênua e vulgar
Cercada por minha intenção

No estalo do tempo nas paredes,
Doce crime que ainda não é meu;
No meu foco, celas enquadradas;
Nelas, Alice, e o seu fim sou eu.

Não é arma o desejo incontido
De um dia completar seus passos,
Mas a assimetria da alma
Escondida em nossos frágeis laços

E nas histórias que conto pra mim
Me traduzo em você.

Minha musa com prosa fecundei
Exalando fuga sob o sol
Das mil tardes secas que criei
A partir de um fôlego só

Sobre ela sou eu meu confidente,
Mas pra ela conto sobre mim.
Nunca sabe, por mais que lhe revele,
Que me traio mas me aproximo assim.

Se nas sílabas sinto o peso
Que treme o corpo e treme a fala,
Cultivarei meu jardim de vozes
Para em coro então chamá-la.

São só dela, portanto, as quinas
Da minha fé tão angulosa,
Erodida, condenada em si
E perfeita porque desgostosa.

E em meus recantos de infância, Alice,
Eu desnudo você.
Rodrigo Fróes
circa 12/06/2007

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Poema-coágulo

Tudo o que guardo de você
Se encerra neste punho
Tendo percorrido o braço esquerdo
Para lhe desaguar os versos
De uma veia que estoura
Como quem chega
À última parada
Da fé.

28/05/2009
14h12

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Uma Parceria: "Confete" (Bernardo Canto & Rodrigo Fróes)

Joga o peso do mundo de um ombro pro outro,
Os tornozelos frágeis abrem o caminho,
O desapego faz o seu figurino
E a sua dança eu quis fotografar.

Gestos breves e expressões tão obtusas,
Sem ter frase, zomba e ri das minhas Musas,
Mas é lisonjeiro o desespero
Que há tempos guardei para você.

Nunca me queira tentar ao me encarar como quem vê um igual.
Neste baile de vaidade travestido em Carnaval,
Jogo confete na sua verve.
Depois reclamo, tirano, da sujeira que terei que limpar.

Sua nudez agride o meu pé descalço,
O desnível faz do palco um cadafalso
De ponta-cabeça quando os aplausos
Rebentam sem saber para quem.

Esta face doce desta minha posse
Ao lhe ver dançando quase se retorce,
Feito um exagero, um medo antigo
De ser eu, ser só meu e mais ninguém.

Nunca me queira tentar ao me encarar como quem vê um igual.
Neste baile de vaidade travestido em Carnaval,
Jogo confete na sua verve.
Depois reclamo, tirano, da sujeira que terei que limpar.

02/01/2010, 01h13 AM