quarta-feira, 6 de novembro de 2013

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Espelho da ansiedade

O espelho da ansiedade
Refratário da pele, do longe
Do querer o eterno
Sabendo que não cabe
Entre o abrir das pétalas
E o fechar dos olhos

Espalhado no prisma
Decompõe-se nos sonhos
Turva de desejo a íris
E dilata no vazio a Permanência

Acompanha no gesto
A mímica de estar vivo
Quer no outro a expressão de si
Ama sem ensaio
Desenha nos espaços
Meninos e constelações

O espelho da ansiedade
A casa das imagens entre si (férteis)
O pulso a correr o vidro

Veredas simétricas
Em desalinho.

RF
04/11/2013
9h53 AM

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Agosto

E na curva dos dias,
Entre o veludo dos silêncios,
No fôlego e no sal das águas
Que ao respirar abrem sulcos na rotina,

Entre as mãos firmes,
Onde se equilibra o tato do que não se toca,
No vão do breve adeus,
Nas catedrais do corpo, onde (m)ora o êxtase,

Na engenharia sutil dos gritos da vida,

Nas leituras em segredo da alma em voz alta,

De dentro do agridoce do medo
Que deu à luz a escolha da coragem,

Fez-se o espanto, eterno de novo rebento,
Espesso, suave,
Seiva perturbadora dos dias sinuosos
E das sílabas retilíneas e mudas
Que agora traçam pontes entre os olhos
Na paciente colheita dos verbos.

Esta graça perplexa
Em comunhão e à espera
Dos corredores, camas e manhãs
Sobre que nos debruçaremos
Para alcançar
E continuar
No outro.

RF
11/10/2013
01h30 AM

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Homem na Barca


O homem na barca
Possui linhas na pele do pescoço, nariz adunco,
Seu olhar fraqueja mas não resseca frente ao vento.
O cabelo grisalho enverga conforme o avanço,
A fivela do relógio fica para fora
Que é para o tempo correr para dentro
E não escorrer para o mundo.

A camisa listrada azul, a mala preta na mão esquerda.
A coluna de quem não cogita
Tombar senão erguido
Frente ao desconhecido
Dos olhos alheios,
Dos olhos do dia
Que se revolve em borrifo crepuscular
No painel do infinito em círculo.

Senti-me conectado ao homem na barca.
Quis filmar o homem na barca.
Quis dizer ao homem na barca que ele era um elogio às coisas vivas,
Uma lembrança de como nos trançamos
Hélices
Mãos
Motores
Na soberba malha-músculo, tapeçaria pulsante dos seres e dos deuses
A pousar entre o Chão, o Céu e a Dúvida
Em marcha leve por sobre as praças
Na dispersão
De quem existe em claro.

RF
12/09/2013

domingo, 1 de setembro de 2013

Armas Brancas

Armas brancas, paixões brandas
Cor e gesto são controversos.
Rubra ira, guerra fria
Pairam sobre nós, ressentidas

Coisas cruas, incolores,
Que ela abraça, caça, habita
E costura em nós um dano ou valor

Carne é viva nas feridas a pulsar sobre as batidas
Veias, vias crescem fortes sobre as ruas sem saída

Nós em ilhas, isolados,
Desatados por sentidos
Submersos, ostensivos
Que ancoram as armas nesses mesmos velhos nós

Diplomatas tem por fardas línguas bélicas, mas exatas.
No costume infiltrada,
Real arma branca:

A palavra.


RF
2006

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Sobre Nabokov, Sting e outros Professores

Há algumas semanas, me veio à memória um episódio interessante, que ilustra como a arte pode reverberar e marcar a vida das pessoas: em 1955, Vladimir Nabokov publicava a primeira edição de "Lolita", histórico em sua narrativa do envolvimento entre um professor e sua enteada menor de idade. Vinte e cinco anos depois, The Police lançava o disco "Zenyatta Mondatta", tendo por faixa de abertura a canção "Don't Stand So Close To Me", na qual Sting relata, entre a ficção e a sua experiência no magistério, a atração entre um professor e sua aluna - e "esta garota tem metade da sua idade". Para ilustrar o nervosismo e tensão do professor ao ver a amada, o narrador o põe a tremer e tossir, "tal qual o velho no livro de Nabokov". Quase trinta anos mais tarde, um amigo meu se apaixona por uma aluna - dessa vez, da mesma idade que ele. No show do Police no Maracanã, em dezembro de 2007, um amigo em comum coloca nosso amigo professor para ouvir, através de seu celular, a execução de "Don't Stand So Close To Me" feita pelo trio, e me conta a história do casal - hoje, marido e mulher.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Rente aos Olhos

Sentou-se ao meu lado para a prova. Amor antigo, nunca dito. No meio da conversa, olha para a frente, o cabelo suspenso em coque. Estão lá, sob a nuca, os três fios negros, paralelos, começando a contornar o pescoço como um afago trançado na pelagem. Meu riso é contido de satisfação plena. Descobri as coisas que não partem, mas se recolhem, mudas, até murmurarem, perante a Majestade da vida e o Assombro do mundo, a centelha da visita.

RF
Terça, 26/03/2013, 0h26