sábado, 7 de março de 2015

Répteis

Neste lugar que nos recebe de passagem,
onde tudo fala e transborda,
onde corpos não conhecem portas
que comportem o direito de passar,
não sei por que você tomou tal forma,
não sei quando você retorna
e não quero perguntar.

Como répteis que, afoitos, antecipam terremotos,
você vem e anuncia o piso instável.

Não julgo seus espelhos, nem divido os meus.
Não acuso as novidades, não culpo o que aconteceu.
Se o ar é reflexo, se vidro rachado,
se vê sua imagem e volta transformado,
esta terra consentiu, jamais eu.

Como aves que voam baixo e antecipam temporais,
você diz que de cima o alívio não vem mais.

Este lugar que nos toma entre peles, escamas, pelagens e penas,
roupagens estranhas e paisagens amenas,
sempre nos define, jamais nos sustenta.
Figuras várias para cada passagem,
águas em transe, ligeiras folhagens,
o caminho se alarga, entranha e inventa.

Com os meus ossos que não sentem nem se elevam,
lhe aguardo para dizer
que estou cansado.

RF
02/12/2014
13h31

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